Entrevista a Erika Luciane Moretto Pedrazzi, diretora da EMEF Professora Norma Botelho

Possui graduação em Educação Artística – habilitação em Artes Plásticas (2005) –, pela UNESP de Bauru. É bacharela em Direito pelas Faculdades Integradas de Jaú (2013) e, no mesmo ano, licenciou-se em Pedagogia pela Universidade Nove de Julho. Possui especialização em “Ética, Valores e Cidadania na Escola” pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Em 2023, concluiu o Mestrado em Educação Escolar, na linha Política e Gestão Escolar, discutindo o ciclo de políticas da gestão democrática e refletindo sobre o papel do diretor de escola. É doutoranda na mesma instituição e linha de pesquisa, com o objetivo de aprofundar estudos acerca do tema. Sua trajetória profissional na educação teve início em 2005, na Rede Estadual de São Paulo, atuando temporariamente em diversas unidades escolares da região. Em 2008, assumiu o cargo de Professora de Arte. Em 2010, ingressou como Professora de Arte na Rede Municipal de Jaú. Em 2020, tomou posse, por concurso público, do cargo de diretora da EMEF Professora Norma Botelho.
Você é gestora de uma escola municipal. Como descreveria sua função dentro desta rede?

A nossa rede de ensino é composta por 36 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) — creches e escolas de educação infantil — e 20 Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEF), sendo 19 para os Anos Iniciais (1º ao 5º ano), uma para os Anos Finais, que também oferece Educação de Jovens e Adultos (EJA), desde a alfabetização até o 9º ano, e uma sala em extensão no Distrito de Potunduva. A Secretaria Municipal de Educação é responsável pela gestão da rede pública municipal e pela supervisão das escolas privadas de educação infantil e de escolas especializadas. Atua em colaboração com o governo estadual, responsabilizando-se pela oferta de merenda e transporte escolar nas unidades estaduais. O governo estadual fornece o material didático (Currículo em Ação) e aplica o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP). A supervisão da Diretoria Regional de Ensino acompanha e valida a expedição de históricos escolares referentes ao Ensino Fundamental regular e à EJA. Sou diretora da única escola municipal que atende os Anos Finais e a EJA: a EMEF Professora Norma Botelho.

A EMEF Professora Norma Botelho tem um projeto – pedagógico e arquitetônico – diferenciado de outras escolas municipais, não é mesmo?

Na verdade, a escola está situada em um Complexo Educacional construído na década de 1990, idealizado pelo Governo Federal e replicado nacionalmente com o propósito de atender integralmente crianças e adolescentes em educação, cultura, esporte e saúde. Eram os Centros Integrados de Atenção à Criança e ao Adolescente (CIAC ou CAIC). Reformas educacionais posteriores descontinuaram o projeto, reduzindo o espaço ao atendimento educacional, com várias alterações administrativas ao longo dos anos. Desde 2011, o complexo é compartilhado por quatro etapas de ensino: creche, educação infantil, Ensino Fundamental – Anos Iniciais e Anos Finais – e Educação de Jovens e Adultos. Os blocos são distintos, mas compartilham pátio, quadra esportiva, campo, refeitório e cozinha. Todas as refeições, exceto as da creche, são preparadas na cozinha administrada pela equipe da EMEF, onde se localiza a sede das merendeiras. O espaço ainda abriga um Centro de Especialidades Odontológicas vinculado à Secretaria da Saúde.

Frente a essa complexidade estrutural e organizacional, quais são suas atribuições?

Atuo nas diferentes dimensões da gestão escolar, atendendo demandas diversas. Entre minhas atribuições estão monitorar atividades administrativas e pedagógicas, intervir quando necessário, mediar interesses entre a comunidade escolar e a Secretaria de Educação, atender alunos, famílias e funcionários, conduzir reuniões do Conselho de Escola, participar da Associação de Pais e Mestres, incentivar a participação dos segmentos escolares e promover eventos para fortalecer vínculos e auxiliar na manutenção da infraestrutura. Por ser um espaço com mais de 30 anos e receber pouca manutenção, problemas elétricos, hidráulicos e estruturais são frequentes, demandando comunicação constante com diferentes setores. Muitas questões das áreas comuns chegam primeiro à minha equipe, devido à proximidade física. Destaco que cerca de 80% do meu tempo é dedicado à resolução de conflitos relacionais, especialmente entre alunos. Minha função é garantir que os discentes dos Anos Finais e da EJA tenham seus direitos educacionais assegurados, com a promoção de seu desenvolvimento enquanto pessoa humana, no sentido amplo do termo, preparando-os para a vida em sociedade.
Qual é o seu público-alvo?

Atendemos prioritariamente adolescentes do Ensino Fundamental – Anos Finais (6º ao 9º ano). A maioria ingressa no 6º ano com 11 anos e conclui com 15 anos. Essa é uma fase crucial do desenvolvimento humano, marcada por mudanças físicas, emocionais, sociais e cognitivas. Exige-se atenção especial, sobretudo para os estudantes com maior vulnerabilidade, que podem estar mais expostos ao uso de drogas, ao tráfico e à gravidez na adolescência. A EJA, majoritariamente, recebe adolescentes que enfrentaram fracasso escolar ou dificuldades disciplinares. Os estudantes adultos são minoria nos Anos Finais, mas constituem a totalidade do 1º segmento (1ª a 4ª série), incluindo idosos. A escola atende 552 alunos matriculados: 301 no período da manhã, 178 à tarde e 73 à noite, com 22 estudantes com deficiência e sala de recursos no contraturno. 136 deles são beneficiários do Bolsa Família e 192 utilizam transporte escolar. Atuam na escola: 35 professores de Educação Básica II, 13 professores auxiliares, 1 professora de Educação Básica I na EJA, 4 inspetores, 5 monitores de alunos com deficiência, 1 agente administrativo, 4 agentes de serviços gerais, 1 professora coordenadora pedagógica, 1 assistente de coordenação da EJA, 1 vice-diretora e eu, diretora. A demanda pelo período da manhã é elevada: somos a única escola que oferece todo o ciclo de Anos Finais neste turno. Isso atrai sobretudo adolescentes que praticam esportes, já que as demais escolas estaduais ofertam essa etapa no período da tarde ou em tempo integral.

Qual é o maior desafio gerencial da sua escola?

O principal desafio da gestão escolar é equilibrar as inúmeras demandas diárias dentro da jornada de trabalho. A escola funciona mais de 75 horas por semana, com circulação intensa de pessoas e atividades, enquanto o diretor possui uma jornada oficial de 40 horas. Mesmo com delegação, é comum ultrapassar esse limite de horas trabalhadas devido à complexidade das situações, muitas delas externas à escola, mas que impactam diretamente o cotidiano escolar. Entre essas múltiplas demandas, o aspecto mais desafiador é manter um diálogo eficiente com todos os envolvidos, de forma a sustentar um clima escolar saudável, com profissionais motivados, cooperativos e comprometidos com o coletivo.

Que tipo de atividade formativa você sente falta para desempenhar sua gestão?

Os professores participam de reuniões pedagógicas semanais com temáticas formativas e recebem acompanhamento em sala de aula da Professora Coordenadora. Entretanto, não há previsão de encontros formativos para os demais funcionários, que geralmente são distribuídos em escalas para organização da escola. As conversas diárias são, em geral, breves e operacionais. Sinto falta de uma formação integrada, destinada a toda a equipe escolar, valorizando o coletivo como um corpo único. Uma formação que permita compartilhar diferentes perspectivas, ampliar o olhar e fortalecer atitudes de respeito, empatia e corresponsabilidade.
Você gostaria de complementar a entrevista com algum comentário?

Agradeço a oportunidade de compartilhar um pouco dessa experiência tão desafiadora. Em 2019, prestei o concurso para Diretor de Escola sem grandes expectativas e, para minha surpresa, fui aprovada em boa colocação. Tive muitas dúvidas sobre assumir o cargo, pois vivia um momento profissional pleno em sala de aula. Contudo, recebi um abraço fraterno da diretora de uma das escolas em que trabalhava, que me encorajou ao desafio. Em 2020, assumi a gestão da escola e encontrei um contexto completamente novo. Em 2021, com o retorno gradual pós-pandemia, deparei-me com uma equipe fragilizada, uma nova secretaria e inúmeros desafios. Foram anos de profundo aprendizado. Pude observar pessoas, espaços e processos, aplicando os referenciais teóricos do mestrado para compreender a realidade e transformá-la, sem desânimo. Hoje, acredito que conseguimos construir uma nova cultura organizacional, com potencial para tornar o ambiente mais saudável e, consequentemente, oferecer um atendimento melhor ao público que recebemos.

 

José Luís Bizelli
UNESP Araraquara

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